LUTAR CONTRA O RACISMO COMO CONDIÇÃO ESTRUTURAL DO CAPITALISMO DEPENDENTE

 

Desde o início da escravidão de africanos para o território brasileiro, o povo negro resiste e luta. Nenhum benefício veio pelas mãos dos colonizadores europeus. A própria data comemorativa, este dia 20 de novembro, foi fruto de muita luta dos movimentos negros nos mais diversos municípios do país. Neste dia em que rememoramos a morte de Zumbi dos Palmares, as elites políticas e econômicas tentam todos os anos formas de boicote. Em alguns municípios, a data não é decretada como feriado. Em outros, mesmo com o feriado estabelecido, o povo negro ainda tem que lutar para que esta data não seja banalizada. No munícipio de Guarulhos – SP, o prefeito antecipou o feriado para o dia 18, demonstrando profundo desprezo pela memória de Zumbi, e pela população negra. A luta do povo negro não pode se limitar a pedir respeito às elites.

Representatividade importa, mas não resolve. Recente pesquisa mostrou que a maioria dos estudantes das universidades públicas são negros. Fica claro o resultado positivo da política das cotas. Mas será que estes números se refletiram em maior bem-estar da população negra? A pesquisa não mostra quais são os cursos ocupados pelos negros nas universidades. Mas certamente, os cursos que as elites destinam para seus filhos, como medicina ou engenharia, ainda não tem negros em sua maioria. A luta do povo negro deve ir além das cotas. Na mídia, o negro continua a ser representado como aquele cuja vida vale menos. Nos programas policiais, nada mudou. Jovens negos são sempre bandidos e assassinos, enquanto jovens brancos são retratados simplesmente por “jovens”. Nas novelas, comerciais e entretenimento no geral, pouco avanço. Representatividade importa, mas não resolve.

Se durante o período escravocrata o africano escravizado era visto como um objeto que visava o lucro, nos dias de hoje o sistema econômico ainda depende de corpos negros para que a grande engrenagem continue a funcionar. A grande massa trabalhadora no Brasil é composta por negros. E a condição intrínseca do capitalismo brasileiro, que é a superexploração dos trabalhadores, requer o racismo estrutural como meio de manter essa superexploração pelo aviltamento da remuneração dos trabalhadores negros e das trabalhadoras negras.

Rememorar a data de morte de Zumbi é comemorar sua luta. Sem luta não há mudança. O capitalismo quer que a luta do povo negro se resuma a pautas identitárias. A reivindicação da identidade é só o primeiro passo. A solidariedade entre nós deve também ir além da identidade. Há muitos capitães do mato infiltrados entre nós, e a estes direcionamos somente o nosso desprezo. Nossa solidariedade e nossa luta deve ser para o povo negro que luta e sofre, e não para com quem colabora com nossos algozes. O exemplo de Ganga Zumba nos mostra que negociar com os detentores do poder nunca nos beneficia. Manter viva a memória de Zumbi é manter vivo seus princípios. Honrar Zumbi é honrar milhões de negros anônimos que lutam contra o sistema.

Hoje, o governo proto-fascista de Bolsonaro, com seu projeto ultraliberal, pretende arrasar os direitos sociais e trabalhistas. Sabemos bem que os grandes atingidos por toda essa contra-ofensiva serão os trabalhadores negros e as trabalhadoras negras. essa contra-ofensiva não é só econômica, mas se reflete no plano sócio-cultural, com a destruição por “traficantes evangélicos” às religiões de matriz africana, e por influenciadores na mídia que querem atenuar a tragédia que representou mais de 300 anos de escravidão, com impactos sentidos até hoje, e que classificam o racismo do cotidiano como mimimi. Posição que tem se refletido no aumento da violência policial e no encarceramento em massa da juventude negra. Isso torna a luta contra o racismo uma luta do conjunto da massa trabalhadora brasileira. Por isso é preciso exigir

·          Abaixo o racismo estrutural

·          Fora Bolsonaro e seu governo racista e de traição nacional

·          Abaixo todas as políticas anti-populares e antinacionais

·          Pelo Socialismo

·          Todo o poder às massas trabalhadoras

 

Brasil, 19 de novembro de 2019.

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