ACORDO ENTRE AS CLASSES DOMINANTES NÃO RESISTIRÁ AO APROFUNDAMENTO DA CRISE
Temos apontado em nossas notas que a chamada crise institucional é um reflexo das disputas entre duas facções da burguesia brasileira.
De um lado temos a facção bolsonarista, ala mais extremista
do programa de ajuste ultraliberal e que ocupa o posto político mais importante
do país. Ela se apóia em facções burguesas até então marginais, no sentido
literal e figurado da palavra. Tem um perfil arrivista e aventureiro, sem
compromisso com a manutenção das instituições burguesas. E quando estas freiam
o atendimento de seus interesses, apelam para o fechamento do STF e do
Congresso através de um golpe militar, para que Bolsonaro governe com poderes
imperais e possa contemplá-la sem obstáculos. Na base de apoio a Bolsonaro
também há uma fauna de forças político-ideológicas retrógradas: monarquistas,
negacionistas, terraplanistas, fundamentalistas religiosos, saudosos da
ditadura militar e grupos abertamente fascistas.
De outro lado temos uma facção que compõe um amplo leque de
forças, que podemos categorizar com uma burguesia mais tradicional e com
interesses mais consolidados. Como forma de mitigar as conseqüências nefastas
do ajuste ultraliberal, defende um projeto social-liberal que inclui políticas
compensatórias e o sistema de cotas étnicos-raciais-sociais. Apresenta-se, na
cena política, como uma burguesia arejada, ilustrada e cosmopolita. Apóia-se em
seu poder financeiro e, institucionalmente, no STF e em parcelas do Congresso.
Busca, em sua luta contra a ala bolsonarista, atrair para sua trincheira
setores populares.
Em nossa nota semanal de 16 de junho, quando passamos em
revista a crise institucional, fizemos o seguinte apontamento: “Observa-se, contudo, um certo
fortalecimento do campo da oposição burguesa, causada aos efeitos acumulados da
profunda recessão econômica, somada à política genocida de Bolsonaro no
enfrentamento da pandemia do coronavírus. Ambas têm levado ao isolamento de
Bolsonaro e ao derretimento paulatino de sua popularidade. Mas esse ainda é um
cenário instável que pode ser revertido. Desse modo, em resposta à pergunta que
dá título a essa nota, entendemos que é mais prudente dizer que aparentemente
se alcançou um equilíbrio de forças que pode se arrastar até a eleição de 2022.
Isso não significa que ele não possa ser alterado a partir de algum
acontecimento extraordinário”. A prisão de Fabrício Queiroz num sítio do
advogado da família Bolsonaro e a possibilidade de uma delação premiada revelar
toda a podridão que envolve a famílicia do presidente, o contra-ataque do STF
contra as alas mais radicalizadas e abertamente fascistas do bolsonarismo, bem
como as manifestações de rua contra o fascismo e pela democracia reforçou um
pouco mais o campo da oposição burguesa.
Porém, isso ainda é insuficiente para garantir à oposição
burguesa, condições de remover Bolsonaro via um processo de impeachment. Diante
da persistência do impasse, sinais emitidos por agentes políticos evidenciam
uma espécie de acordo, ainda que provisório e precário, entre as facções em
disputa. A visita do ministro do STF, Gilmar Mendes, ao comandante do Exército,
general Edson Leal Pujol, foi o sinal mais claro desse possível acordo, que
evitaria a abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro, ou a
cassação da chapa no TSE, mas que obrigaria o presidente a respeitar as regras
do jogo democrático burguês, onde a oposição burguesa tem mais força. O acordo
busca criar uma espécie de paz entre ambas as facções burguesas, para que o
eixo político volte a ser o que para elas é o essencial: completar o ajuste
ultraliberal contra as massas trabalhadoras e o país.
Mas esse acordo não resistirá ao aprofundamento da crise. E
às massas trabalhadoras cabem, no momento certo, sem os riscos que podem trazer
a pandemia, ocupar as ruas para derrotar Bolsonaro, como também o programa de
ajuste ultraliberal.
- Fora
Bolsonaro e seu governo genocida e de traição nacional
- Abaixo
todas as políticas anti-povo e anti-nacionais
- Pelo
socialismo
- Todo o
poder às massas trabalhadora
Brasil, 07 Julho de 2020
A independência do Brasil, ao contrário do que quer fazer
crer a historiografia oficialista, não foi um processo pacífico. Em várias
partes do país houve luta popular armada contra o colonizador. Na Bahia, as
tropas de ocupação portuguesa só se retiraram derrotadas em 2 de julho de 1823,
após uma epopeia de luta em que se destacaram Maria Quitéria, primeira mulher a
sentar praça nas Forças Armadas brasileiras e líder de um batalhão feminino, e
Soror Joana Angélica, assassinada defendendo o seu convento e a população civil, vítima de
agressões e achaques dos soldados portugueses.
Castro Alves, o poeta da liberdade, imortalizou em seus
poemas as lutas populares da primeira metade do século XIX. A Ode ao Dois de
Julho foi lida pelo poeta tribuno no teatro São Pulo, em junho de 1868.
Ode ao dois de julho
Era no Dous de julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito...
O mundo perguntava erguendo um grito:
"Qual dos gigantes morto rolará?!..."
Debruçados do céu... a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado...
Era a tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma — o vasto chão!
Por palmas — o troar da artilharia
Por feras — os canhões negros rugiam!
Por atletas — dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!
Não! Não eram dous povos, que abalavam
Naquele instante o solo ensanguentado...
Era o porvir — em frente do passado,
A Liberdade — em frente à Escravidão,
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso — contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva — e do clarão!...
No entanto a luta recrescia indômita...
As bandeiras — como águias eriçadas —
Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz...
Tonto de espanto, cego de metralha,
O arcanjo do triunfo vacilava...
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis...
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Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço... e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina:
Eras tu — Liberdade peregrina!
Esposa do porvir — noiva do sol!...
Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide,
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito...
Um trapo de bandeira — n'amplidão!...
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