BRASIL É EMPURRADO PARA UMA SITUAÇÃO SEMI-COLONIAL

 Uma grave ameaça paira sobre o Brasil. O projeto de país da grande burguesia brasileira é o de nos tornar uma semi-colônia do capital financeiro internacional. Historicamente, desde a Independência a classe dominante brasileira age como toda a classe dominante de um país subordinado às grandes potências. Para garantir nessa relação os seus interesses, ela age como uma intermediária entre o país e o imperialismo. Essa posição intermediária é garantida pela superexploração das massas trabalhadoras e, consequentemente, por um sistema político que trata a questão social como caso de polícia.

Desde a década de 1980, há uma mudança nessa relação. Ela reflete mudanças mundiais que buscam aprofundar os níveis de dependência, subordinação e semi-colonialidade dos países que, como o Brasil compõe a periferia do sistema imperialista. Para essas nações continuarem atrativas ao capital imperialista, a maioria aceitou uma agenda de reformas regressivas. Os parcos direitos sociais, previdenciários e trabalhistas são suprimidos. Empresas estatais de serviços e indústrias foram privatizadas. Os instrumentos de regulação da entrada do capital estrangeiro, no comércio e nos investimentos, foram abertos. E uma nova divisão internacional do trabalho, que consiste basicamente em definir o papel de cada país ou região no processo mais geral da acumulação do capital, também fez parte dessas mudanças.

No caso do Brasil, mas também da América Latina, essa agenda representa um processo de destruição nacional. Depois de alcançar relativo nível de desenvolvimento econômico e industrial, o Brasil passa à condição quase absoluta de serviçal do capital financeiro. E, também, produtor de produtos agrícolas e minerais para exportação. A burguesia brasileira, para garantir seus interesses econômicos e políticos em um cenário de maior pressão imperialista, topa aumentar a internacionalização da nossa economia. E para isso, ela abdica de qualquer nível de soberania: alimentar, industrial, tecnológica, econômica, militar, financeira, monetária, diplomática etc. E assim caminha o Brasil para uma situação de semi-colonialidade. Essa é a agenda do governo Bolsonaro, que com o banqueiro Paulo Guedes no comando da economia, não passam de paus mandados desses interesses. Caminhamos para nos tornar um protetorado econômico, político e militar das grandes potências. A dúvida, no interior da grande burguesia brasileira, é em quais condições essa situação se dará.

Diante desse cenário, a questão nacional, hoje, diferente de certa visão pseudo-internacionalista e pós-moderna que contamina setores da esquerda brasileira, é imprescindível. Ela está imbricada com a questão democrática e a questão dos direitos sociais e trabalhistas. Uma não será resolvida sem as outras duas. Cabe às massas trabalhadoras, na condição de força principal e força dirigente, encabeçarem uma luta em torno de uma revolução brasileira que tenha um caráter combinado de luta nacional, popular e democrática. Uma revolução brasileira que redima nosso povo e nosso país de 520 anos de opressão e exploração.

- Fora Bolsonaro e seu governo genocida e de traição nacional

- Abaixo todas as políticas anti-povo e anti-nacionais

- Pelo socialismo

- Todo o poder às massas trabalhadora


Brasil, 21 Julho de 2020



A POESIA DE LILA RIPOLL

Lila Ripoll (1905-1967) foi poeta, pianista, jornalista e militante comunista. Presente na cena literária e cultural do Rio Grande do Sul, Lila compôs junto com Manoelito de Ornellas, Dyonélio Machado e Cyro Martins a geração de 30 gaúcha. Depois do assassinato político de seu primo, em 1934, Lila adere ao Partido Comunista, no qual militou até a sua morte. Lila recebeu o prêmio Pablo Neruda da Paz, em Praga, pelo seu livro Novos Poemas. Em 1964, foi perseguida e presa. A Assembleia Legislativa do Rio Grande instituiu o Prêmio Lila Ripoll de poesia, para obras de temática social e de gênero. Publicamos um trecho do poema 1o de Maio, que Lila escreveu em homenagem aos trabalhadores mortos na repressão ao ato de 1o de maio de 1950, na cidade de Rio Grande.

Foi num primeiro de maio,
na cidade de Rio Grande.

(...)

O povo reuniu-se em festa,
pois a festa era do povo.

(...)

"Uni-vos, ó proletários,
ó povos de todo o mundo."

Unido estava em Rio Grande,
o povo simples cantando.

No peito de cada homem
uma esperança se abria.
Em qualquer parte do mundo
uma estrela respondia.

(...)

Foi quando a voz calma e séria,
no velho parque vibrou,
e um convite alviçareiro
o povo unido escutou:

"Amigos, a rua é larga.
Unidos, vamos partir.
A nossa 'União Operária'
nós hoje vamos abrir."

(...)

"A casa de nossa classe,
fechada, por que razão?
Amigos, vamos à rua,
e as portas se abrirão."

A onda humana agitou-se,
cresceu em intensidade.
Em coro as vozes subiram
clamando por liberdade.

"À rua, à rua, sem medo,
unidos, vamos marchar."

Foi como se uma rajada
de vento encrespasse o mar.


Publicado no livro Primeiro de Maio (1954).

In: RIPOLL, Lila. Ilha difícil: antologia poética. Sel. e apres. Maria da Glória Bordini. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1987. p.113-11


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