SEM ILUSÕES: BOLSONARO NÃO É DESENVOLVIMENTISTA E NÃO VAI ROMPER COM A AGENDA ULTRALIBERAL
A tarefa de Bolsonaro é implantar uma política ultra-liberal, destruindo as capacidades de regulação e intervenção econômica do Estado. O ocupante do Planalto nunca escondeu seus objetivos. O tal posto Ipiranga, Paulo Guedes, em plena campanha, expôs seu programa de liquidação e rapinagem gerais. O noticiário da semana que passou expôs o conflito entre uma ala “desenvolvimentista” e o núcleo do ministério da economia, comandado por Paulo Guedes. A simples possibilidade de Bolsonaro, encantado com fugazes números de popularidade, furar a lei do Teto em alguns bilhões mobilizou os representantes do capital financeiro, de Rodrigo Maia aos colunistas isentões da Folha de São Paulo. Paulo Guedes se adiantou a ameaçar o seu chefe (?) de impeachment.
A demora nas privatizações teria levado o secretário das
privatizações, empresário coadjuvante do Uber, à demissão. O vice, general
Mourão, lamentou, afirmando que locador de carros para motoristas de aplicativo
havia sido “impaciente”. Nada mais claro para demonstrar que o projeto
privatista segue firme e forte. Enquanto as privatizações “demoram”, a Eletrobrás
vende um campo eólico lucrativo por 20% do valor que investiu. O presidente
“tentado pelo desenvolvimentismo”, baixa Medida Provisória para retalhar a
Caixa Econômica Federal. E a Petrobras dá os últimos retoques na liquidação de
seu parque de refino.
Má-fé ou muita ingenuidade acreditar na existência de uma ala
“desenvolvimentista” no governo que capitanearia um “plano Marshall”. O ministro
Tarcísio, da infra-estrutura, é um privatista contumaz, que só trabalha para
“conceder” portos, estradas e aeroportos para “investidores”. As reclamações do
referido ministro, seus aliados militares e políticos do Centrão, nada mais são
que chantagem em cima de Paulo Guedes, por uns trocados em obras regionais para
atender interesses paroquiais. Muito longe de um programa de recuperação
econômica brasileira.
Os militares trabalham para que o Brasil seja um protetorado
dos EUA. A maioria do Congresso segue firme na retirada de direitos. A
aprovação do Fundeb foi uma exceção em meio a tantas perdas. O STF, na sua
maioria, tem concordância com o ajuste neoliberal. O mercado financeiro quer
privatizações e redução dos bancos públicos. Os latifundiários e mineradoras
querem as terras indígenas e áreas de proteção ambiental. A economia do crime
quer legalizar o jogo, acabar com os controles de armas e com a fiscalização
ambiental, da saúde e do trabalho.
Tudo isso é incompatível com a recuperação econômica. Para
viabilizar a tal Renda Brasil e preservar o tal teto, a mando de Bolsonaro,
Paulo Guedes raspa o tacho do orçamento, trabalhando para acabar com diversos
programas, incluindo a gratuidade da Justiça. Eis que Bolsonaro reserva para os
trabalhadores e o povo pobre, renda mínima – bem abaixo dos 600 reais - mas sem
saúde, sem educação, sem previdência, sem crédito habitacional e sem emprego
minimamente digno.
Parcela da esquerda se assustou com os índices de pesquisa
obtidos pelo ex-capitão. Temerosa de perder sua bandeira quase única, a renda
mínima, esse setor da esquerda se preocupa em perder sua base eleitoral para o
bolsonarismo. Assacam contra a população o mesmo discurso da direita, de ser
comprável por programas sociais. Por outro lado, se é verdade que a
popularidade de Bolsonaro cresce em virtude do auxílio emergencial de 600
reais, isso comprova que, para as massas trabalhadoras, as pautas econômicas
têm mais importância do que as pautas comportamentais.
Derrotar o fascismo é uma jornada de largo fôlego. Derrotar o
fascismo é derrotar a política ultra-liberal de Guedes. Sem isso, a existência
do Brasil como nação corre risco, com a perenização da miséria e da violência.
Com ou sem renda mínima, o fascismo e o ultraliberalismo não são capazes de dar
respostas concretas à crise e ao caos social.
Para derrotar a dupla Bolsonaro/Guedes, é preciso mobilizar
os trabalhadores e o povo em torno de questões concretas. O povo brasileiro não
é um amontoado de ignorantes, como as classes dominantes o retratam e certa
esquerda acredita. Nosso povo já foi protagonista de gloriosas jornadas de
luta. Será capaz de se mobilizar o mudar o rumo do Brasil.
- Fora
Bolsonaro e seu governo genocida e de traição nacional
- Abaixo todas
as políticas anti-povo e anti-nacionais
- Pelo
socialismo
- Todo o
poder às massas trabalhadora
Brasil, 18 Agosto de 2020
À Fidel
Pablo Neruda
Fidel, Fidel, os povos te agradecem,
palavras em ação e feitos que cantam,
por isso, de longe te trago
uma taça de vinho de minha pátria:
é o sangue de um povo subterrâneo,
que chega da sombra a tua garganta,
são mineiros que vivem há séculos
triando fogo da terra gelada.
Vão abaixo do mar pelos carvões
e quando voltam são como fantasmas:
se acostumaram à noite eterna,
lhes roubaram a luz da jornada
e sem dúvida qui tens a taça
de tantos sofrimentos e distâncias:
a alegria do homem encarcerado
povoado de trevas e esperança,
que dentro da mina sabe quando
chegou a primavera e sua fragrância
porque sabe que o homem está lutando
até alcanças a claridade mais ampla.
E a Cuba vêm os mineiros austrais,
os filhos solitários da pampa,
os pastores do frio em Patagônia,
os pais do estanho e da prata,
os que casando-se com a cordilheira
tiram o cobre de Chuquicamata,
os homens de ônibus escondidos,
em povoados puros de nostalgia,
as mulheres de campos e tendas,
os meninos que choraram suas infâncias:
esta é a taça, toma-a, Fidel
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