ELEIÇÕES NORTE-AMERICANAS: VENÇA QUEM VENCER, TRUMP OU BIDEN SERÃO GESTORES DOS INTERESSES IMPERIALISTAS

 As atenções mundiais estão voltadas hoje à eleição presidencial norte-americana. Concorrem o atual presidente, o republicano Donald Trump, e o democrata Joe Biden. Donald Trump é a expressão de um movimento político mundial de caráter fascista, autoritário e ultraconservador. Nos Estados Unidos ele se apoia nas camadas mais atrasadas das classes média e trabalhadora branca. No âmbito mais geral esse movimento conservador resulta da profunda crise capitalista que produz a deterioração das condições de vida das massas trabalhadoras. Como meio de contornar a perda de hegemonia dos Estados Unidos, Trump defende o unilateralismo, que coloca os interesses da burguesia monopolista norte-americana acima dos interesses das outras potências imperialistas. Essa política unilateral se manifesta em seu slogan: “Make America Great Again”, (Fazer a América Grande Novamente).

Por isso a política de Trump é criticada à esquerda, por causa de seu caráter abertamente racista e de defesa do supremacismo branco, mas também à direita entre vastos segmentos econômicos liberais, por causa de seu unilateralismo.

Por isso, Biden aparece como o oposto de Donald Trump. Ele e o Partido Democrata são vistos no imaginário popular mundial como políticos mais liberais, preocupados com os direitos humanos e menos belicosos. Essa é uma ilusão perigosa presente em vastos segmentos populares em todo o mundo, inclusive no Brasil. Ela desarma os povos dominados pelo imperialismo, ao fazer crer que haveria governos imperialistas mais “bonzinhos”.

Há 200 anos, Democratas e Republicanos se alternam na presidência dos Estados Unidos. Ambos cumpriram rigorosamente o papel de gerir os interesses do capital monopolista norte-americano. E para isso executaram sem titubear uma política externa agressiva que organizou golpes de Estado e provocou guerras em vários países. Do ponto de vista da política externa, Democratas e Republicanos não possuem qualquer diferença. Ambos agem, na presidência dos Estados Unidos, como gestores dos interesses imperialistas de seus grandes monopólios capitalistas. Portanto para nós, povos das colônias e semicolônias, vença quem vencer, o imperialismo não deixará de ser imperialismo. Foi a gestão do democrata John Kennedy que aumentou a escalada da guerra do Vietnã. Outro democrata, Lyndon Johnson, apoiou o golpe militar no Brasil em 1964. E por fim, a gestão de Barack Obama levou o caos e a destruição à Líbia à Síria.

No caso específico do Brasil, sabemos que a derrota de Trump causaria um enfraquecimento relativo do governo Bolsonaro. Porém, e aqui reside outra ilusão perigosa, caso eleito Biden não vai alterar a relação de seu governo com o governo brasileiro. Essa relação, marcada pela subordinação do nosso país aos interesses norte-americanos, é altamente vantajosa aos gringos. Ela inclui, além de acordos comerciais, acordo de cooperação militar e, inclusive, chegou-se ao ponto de o Brasil destacar militares para servirem sob as ordens do Comando Sul dos Estados Unidos.

Para nós, a política mais correta em relação ao imperialismo continua sendo a do grande revolucionário Ernesto Che Guevara: “Não se pode confiar no imperialismo, nem um tantinho assim. Nada!”. Vença quem vencer a prática imperialista de dominar os povos colonizados e semicolonizados pela guerra e violência não mudará. Cabe a nós, portanto, lutarmos por uma autêntica revolução nacional, popular e democrática que rompa as cadeias da subordinação e da dependência, para garantir ao povo a nossa segunda e definitiva independência.



Brasil, 03 de Novembro de 2020 

A POESIA COMO ARMA DE DENÚNCIA: O CASO DE LAWRENCE FERLINGHETTI

Muitos poetas estadunidenses remam contra a corrente. Os poetas da geração beat desafinaram o coro dos contentes do American Way of Life. Lawrence Ferlinghetti é um grande poeta americano dessa geração e foi uma voz contra o conformismo, o racismo, o consumismo e contra a guerra do Vietnã. No dia das eleições nos EUA, onde o povo é chamado a escolher entre as duas facções do imperialismo, um poema-denúncia do delicado poeta nova-iorquino.


Saudação

A cada animal que abate ou come sua própria

espécie

E cada caçador com rifles montados em

camionetas

E cada miliciano ou atirador particular

com mira telescópica

E cada capataz sulista de botas com seus cães

& espingardas de cano serrado

E cada policial guardião da paz com seus cães

treinados para rastrear & matar

E cada tira à paisana ou agente secreto

com seu coldre oculto cheio de morte

E cada funcionário público que dispara contra o

público ou que alveja-para-matar

criminosos em fuga

E cada Guarda Civil em qualquer pais que

guarda os civis com algemas & carabinas

E cada guarda-fronteiras em tanto faz qual

posto da barreira em tanto faz qual lado de

qual Muro de Berlim cortina de Bambu ou

de Tortilha

E cada soldado de elite patrulheiro rodoviário em calças de equitação sob medida &

capacete protetor de plástico &

revólver em coldre ornado de prata

E cada radiopatrulha com armas antimotim &

sirenes e cada tanque antimotim com

cassetetes & gás lacrimogênio

E cada piloto de avião com foguetes & napalm

sob as asas

E cada capelão que abençoa bombardeiros que

decolam

E qualquer Departamento de Estado de qualquer

superestado que vende armas aos dois lados

E cada Nacionalista em tanto faz que Nação em

tanto faz qual mundo Preto Pardo ou Branco

que mata por sua Nação

E cada profeta com arma de fogo ou branca e

quem quer que reforce as luzes do espírito

à força ou reforce o poder de qualquer

estado com mais Poder

E a qualquer um e a todos que matam & matam & matam & matam pela

Paz

Eu ergo meu dedo médio na única saudação apropriada

Prisão de Santa Rita, 1968

[Tradução: Nelson Ascher]

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