VITÓRIA DO MAS NA BOLÍVIA DEIXA IMPORTANTES LIÇÕES A TODOS OS POVOS DA AMÉRICA LATINA.

 As forças populares e de esquerda foram amplamente vitoriosas nas eleições gerais da Bolívia no último domingo. Os golpistas e seus aliados estadunidenses foram obrigados a reconhecer a derrota. Além de eleger o chefe do Executivo, o MAS e seus aliados garantiram maioria nas duas casas do Parlamento.

Após um ano de golpe de estado, o MAS retorna ao governo infligindo forte revés à política neoliberal no continente latino-americano. O processo vivido pelo país-irmão desde 2019 traz ensinamentos a todo o campo popular na América Latina.

O primeiro ensinamento é manter a mobilização popular. O golpe de 2019 foi derrotado nas urnas depois de ter sido derrotado nas ruas. Os povos da Bolívia jamais aceitaram passivamente a presidente fake Anez. A repressão, os massacres, as perseguições não conseguiram dobrar os povos e a classe trabalhadora da Bolívia. Não fosse a resistência, os resultados de domingo não teriam sido alcançados.

O outro ensinamento é ter plena compreensão dos limites da política institucional burguesa. Uma vez conquistado o governo, é necessário implementar as mudanças necessárias para que os nossos países tenham pleno desenvolvimento econômico e social. O governo de Evo Morales foi um dos governos progressistas que não se manteve na prisão das políticas econômicas do financismo, como ocorreu com os governos do PT no Brasil. Mesmo assim, as ações do governo do MAS se mostraram insuficientes para promover as mudanças necessárias para a redenção da Bolívia.

E por fim, governos de direita e de extrema-direita não são invencíveis, mesmo quando assumem o poder pelo voto popular. As políticas neoliberais só trazem a miséria e a ruína econômica. Forças políticas neoliberais não conseguem manter os povos manietados pela ideologia por muito tempo. Isso vale particularmente para o atual mandatário do Brasil e a sua “popularidade”.

O golpe da Bolívia foi inspirado por um financista estadunidense, interessado nas grandes reservas de lítio do país. A oligarquia boliviana quis ser sócia do saque das riquezas naturais do país, em sociedade com fundos financeiros baseados nos EUA. A tarefa do novo governo boliviano é fazer com que as riquezas do país revertam em proveito dos povos bolivianos. Para tal, a eleição de Lucho Arce é apenas o começo do desafio que as forças populares têm na Bolívia.

As classes dominantes da América Latina decidiram pelo saque dos nossos países. Essas mesmas classes dominantes mantém sólidos vínculos econômicos e culturais com os EUA. Derrotar as classes dominantes nacionais é derrotar o imperialismo. Essa é a atarefa das classes trabalhadoras e dos povos de Nossa América.

No Brasil, as massas trabalhadoras e o conjunto da esquerda combativa precisam extrair do exemplo boliviano essas importantes lições. Só a auto-organização popular, a luta de massa e a politização dessas lutas são capazes de impor derrotas aos governos de direita e de extrema-direita que quer, associadas ao imperialismo, pilhar e saquear o patrimônio nacional e agravar a superexploração dos nossos povos

* Viva o povo boliviano!

* Pela segunda e definitiva independência de todos os povos da América Latina e do Caribe!

* Pela unidade latino-americana!

*  Pelo socialismo

*Todo o poder às massas trabalhadora


Brasil, 20 de Outubro de 2020


ADELA ZAMUDIO E A FORÇA DA MULHER BOLIVIANA

Com a vitória das forças populares na Bolívia, uma homenagem à mulheres bolivianas. Adela Zamudio (1854-1928) foi poeta, periodista, ativista política e defensora dos direitos das mulheres na Bolívia. Autodidata, em seu tempo às mulheres bolivianas era permitido a educação primária, Adela escreveu contra os cânones e se tornou uma das principais vozes literárias da língua espanhola.

 NASCER HOMEM

(Adela Zamudio)

 

Quanto trabalho ela tem
pra corrigir a torpeza
de seu esposo, mas na casa,
(permita-me o assombro)
tão inepto como fátuo
segue ele sendo a cabeça,
porque é homem.

 

Se alguns versos escreve
-“De alguém esses versos são
que ela só os subscreve”;
(permita-me o assombro)
Se esse alguém não é poeta
por que tal suposição?
-Porque é homem.

Uma mulher superior
em eleições não vota,
e vota o sacana pior;
(permita-me o assombro)
Com só saber assinar
pode um idiota votar,
porque é homem.

 

Ele se abate e bebe ou joga
em um revés da sorte;
ela sofre, luta e roga;
(permita-me o assombro).
Ela se chama “ser débil”,
e ele se apelida “ser forte”
porque é homem.

Ela deve perdoar
se seu esposo lhe é infiel;
mas, ele pode se vingar;
(permita-me o assombro)
em um caso semelhante
até pode ele matar,
porque é homem.

Oh, mortal!
Oh mortal privilegiado,
que de perfeito e honesto
goza seguro renome!
Para você que basta?
Nascer homem.

(tradução de Jeff Vasques)



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