PARA TERMOS VACINA, COMIDA E EMPREGO É PRECISO DERROTAR O ULTRALIBERALISMO DO CAPITÃO E DO CAPITAL

 

Aprofunda-se dia-a-dia o desgaste e a desmoralização do governo Bolsonaro. Seu motivo mais imediato está no agravamento da crise sanitária, com o avassalador crescimento dos casos e a alta média móvel de mortos, causada pela negligência do governo. O caos em Manaus, com pessoas morrendo asfixiadas por falta de oxigênio, insumo básico em qualquer hospital, é sua expressão mais trágica.
O negacionismo do governo em tratar a pandemia com a gravidade que ela merece é responsável direto por esse cenário aterrador. Negacionismo cuja justificativa ideológica se adéqua muito bem ao ajuste ultraliberal, que descompromete totalmente o Estado em garantir a saúde e a segurança dos cidadãos. A economia se sobrepõe a qualquer consideração de ordem moral e humanitária. Por isso o Capitão e o capital, sob o pretexto de não deixarem a economia parar, insistem desde o início da pandemia num tratamento precoce da Covid que não existe.
Mas a política genocida do Capitão e do capital de expor o povo ao contágio e a morte para manter a economia funcionando não deve nos surpreender. Somos um país em que a superexploração do povo é a norma. Isso torna o Brasil, na brilhante definição de Darcy Ribeiro, “um moinho de gastar gente”. A crise sanitária apenas expôs e generalizou, para camadas mais amplas da população, a crueza dessa política estruturalmente genocida. Uma crueza acentuada pelo predomínio da agenda ultraliberal, para quem o negacionismo bolsonarista, como apontamos acima, é conveniente. Afinal, negando a gravidade da pandemia o Estado mantém o descompromisso total em traçar políticas e investir dinheiro público no combate à pandemia, seja fazendo testes em massa, pagando auxílio emergencial, garantindo financiamento aos pequenos e médios negócios, investindo em hospitais e financiando pesquisas para desenvolver uma vacina.
O que temos visto, bem ao contrário, é o Capitão e o capital manterem sua adesão intransigente a agenda ultraliberal, cuja facção burguesa mais beneficiada é aquela ligada às atividades rentístico-financeiras. Ela aceita sem remorsos ou pruridos morais o genocídio do povo, contanto que não se fure o teto nos gastos públicos. Por isso teremos em 2021 um aprofundamento da crise. A burguesia brasileira não aceita negociar os termos do ajuste ultraliberal. Ela quer aproveitar o cenário da pandemia para completar a destruição do Estado e aumentar a superexploração do povo.
Porém, a política do governo Bolsonaro de negligenciar em termos absolutos o combate à pandemia gera contradições no interior do próprio campo burguês. O atraso na política de vacinação, combinada ao boicote as medidas que contenham a propagação do vírus, dificulta a normalização da vida econômica. Ao mesmo tempo, seu pouco empenho em fazer as reformas administrativa e fiscal sinaliza a certas facções burguesas certo descompromisso seu com a agenda de reformas regressivas. É nesse contexto que aparece a possibilidade do impeachment de Bolsonaro, reforçada pela entrada em cena de carretas populares em todo o país. A greve dos caminhoneiros, motivada por demandas não cumpridas da última paralisação em 2018, pode aumentar o nível de desgaste do governo. E se avançar para um questionamento da política de preços da Petrobrás, voltada exclusivamente ao atendimento dos seus acionistas em detrimento do povo, pode abrir espaço para se questionar o caráter destrutivo do projeto ultraliberal para o país e iniciar um movimento que o Estado retome o controle sobre a riqueza nacional.
As facções burguesas descontentes com Bolsonaro que defendem a saída do presidente querem substituí-lo por alguém mais eficiente na aplicação da agenda ultraliberal. Ela se baseia numa lógica financeiro-rentista, que requer um verdadeiro assalto a riqueza nacional e a necessidade de destruir o país. Dirigindo um eventual processo de impeachment, ela até pode substituir Bolsonaro por alguém que interrompa o brutal genocídio em curso, além de apaziguar o ambiente político. Tudo para no essencial manter intocado interesses da facção rentístico/financeira. Diante desse cenário Bolsonaro também movimenta suas peças. Ele investe pesado na eleição de Artur Lira para a presidência da Câmara dos Deputados. Outra é que ele pode deixar a crise em 2021 se agravar ainda mais, com verdadeiras insurreições populares, para justificar um Estado de Defesa, o que lhe possibilitaria governar sob condições ainda mais autoritárias.

Sob esse cenário cabe às massas trabalhadoras, mesmo diante das dificuldades impostas pela pandemia, organizar-se e lutar para derrotar o Capitão e o capital. Ambos são indissociáveis. A negligência genocida do governo Bolsonaro no combate à pandemia reproduz a negligência com que a burguesia brasileira sempre tratou o povo, hoje atualizada na agenda de ajuste ultraliberal. A derrota de Bolsonaro, com o inevitável impeachment e julgamento popular por seus crimes de lesa pátria, deve estar vinculado a uma estratégia de destruição do ultraliberalismo e da facção financeiro-rentista que lhe sustenta. Sob outra configuração política, as massas trabalhadoras poderão fazer garantir o atendimento de uma agenda imediata que se alicerça em três eixos: vacina, comida e emprego. A partir disso, fazer avançar um projeto que rompa com nossa dependência e a superexploração do povo, orientado à construção do socialismo. Um projeto que redima nosso povo de 521 anos de exploração, miséria e ignorância.

·               Fora Bolsonaro e seu governo genocida de traição nacional 

 

            ·          Chega do capitão e do capital

 

            ·          Por vacina, comida e emprego

 

            ·         Pelo socialismo

 

            ·         Todo o poder às massas trabalhadoras


       


        Brasil, 26 de Fevereiro de 2021


 

 

 Seção Cultural 


No dia 2 de fevereiro de 1943, o 6o Exército alemão apresentou sua rendição às forças soviéticas, encerrando a mais decisiva das batalhas da segunda guerra mundial. O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema Carta a Stalingrado no momento em que a batalha se desenrolava, quando a esperança de se derrotar o fascismo se voltava para a cidade industrial do Cáucaso. O poema foi publicado no livro A Rosa do Povo, o qual Antonio Houaiss classificou como “Uma poesia marcada pelo momento histórico. Foi o livro mais político de Drummond, onde o compromisso da poesia com o seu tempo e com a realidade social foi reafirmado.

CARTA A STALINGRADO

Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem
enquanto outros, vingadores, se elevam.

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.

Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.

Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.

Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!

A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate, e
vence.

As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.

Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.







 

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