AUMENTO DOS JUROS SERVE AOS BANQUEIROS, AGRAVA CRISE E PREPARA O CENÁRIO DE UMA EXPLOSÃO SOCIAL
A gestão vulgar da economia receita a taxa de juros como instrumento para conter pressões inflacionárias de demanda. Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do agora autônomo Banco Central aumentou a taxa de juros de 6,25% para 7,75%. E justificou a medida como único meio eficaz de conter o aumento da inflação. Porém, dado o cenário econômico, a inflação brasileira atual não é causada por uma demanda aquecida.
A inflação que nos atinge é de outro tipo. Com a desindustrialização, a economia brasileira depende cada vez mais da importação para suprir suas necessidades. E com uma produção capitalista voltada à exportação, o parâmetro de lucratividade do capital são os preços internacionais. Combinada à desvalorização do real frente ao dólar, compõe-se o quadro que explica a atual inflação que corrói a renda da massa trabalhadora. O que estaria por trás, então, da decisão do Copom?
A Selic é a taxa de juros básica da economia. Mas ela também serve para remunerar os títulos da dívida pública. Portanto, se não temos uma inflação por demanda aquecida, o aumento da Selic só serve a um propósito: reforçar a acumulação de capital dos parasitas que controlam o negócio da dívida pública. Para o rentismo, que é quem exerce a hegemonia sobre o processo de acumulação de capital no Brasil, a dívida pública é um meio privilegiado para ganhar muito dinheiro. De acordo com dados do movimento Auditoria Cidadã da Dívida, do orçamento federal executado em 2020 de 3,535 trilhões de reais, o equivalente a 1,381 trilhão de reais, ou 39,08%, foi gasto com o pagamento de juros e amortização da dívida. Com a educação o governo federal gastou 2,49% do orçamento e com a saúde 4,29%.
A pressão exercida pelo capital dita que, o gasto público com as necessidades do povo não pode crescer. Reforma da previdência e do próprio funcionalismo, privatização ou terceirização de serviços públicos e a Emenda Constitucional 95, que impõe um teto no aumento dos gastos públicos, são instrumentos usados por todos esses governos para diminuir os gastos com serviços públicos e garantir que a dívida pública que alimenta os banqueiros tenha prioridade no orçamento federal.
Diante desse cenário, o resultado do recente aumento da Selic será sentido em breve. Para garantir os interesses do rentismo veremos se agravar a recessão e o baixo crescimento da economia. E mais uma vez, quem pagará a conta são as massas trabalhadoras na forma de mais desemprego, redução ainda maior do poder de compra dos salários, precarização, informalidade e alastramento ainda maior da fome e da miséria.
A política do genocida Bolsonaro e do banqueiro Paulo Guedes de privilegiar os interesses do rentismo empurra o Brasil para uma crise sem precedentes. Em breve poderemos enfrentar simultaneamente uma estagnação econômica acompanhada de inflação alta, crise energética, crise hídrica, desemprego e aumento ainda maior da fome e da miséria. Estão dadas as condições de uma explosão social de consequências imprevisíveis. Porque indivíduos cometem suicídio, mas não classes sociais. E as massas trabalhadoras, em luta desesperada pela sobrevivência, não se deixarão morrer passivamente.
Cabe aos comunistas e outras forças políticas revolucionárias presentes no proletariado se prepararem para estar à altura desses acontecimentos.
• CONTRA O DESEMPREGO E O CUSTO DE VIDA
• IMPEACHMENT E CADEIA PARA BOLSONARO
• ABAIXO O AJUSTE ULTRALIBERAL
• PELO SOCIALISMO
• TODO O PODER ÀS MASSAS TRABALHADORA
Brasil, 02 de novembro de 2021
SEÇÃO CULTURAL
GARRINCHA – A ALEGRIA DO POVO
Se vivo estivesse, Manoel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha, o Anjo das Pernas Tortas, teria completado 88 anos em 28 de outubro passado. Com Pelé, Garrincha foi o símbolo maior da qualidade do jogador brasileiro: alto nível de habilidade técnica, grande capacidade de improvisação e imaginação. Mas Garrincha também ganhou espaço no imaginário popular ao simbolizar um certo modo de ser do povo brasileiro: simples , despreocupado e pouco afeito a regras e convenções sociais. Em sua homenagem publicamos aqui excertos de uma crônica escrita por Carlos Drummond de Andrade, “Mané e o sonho”, dois dias depois da morte do jogador em 1983.
Mané e o Sonho
(Carlos Drummond de Andrade)
(...)
Mané Garrincha foi um desses ídolos providenciais com que o acaso veio ao encontro das massas populares e até dos figurões responsáveis periódicos pela sorte do Brasil, ofertando-lhes o jogador que contrariava todos os princípios sacramentais do jogo, e que no entanto alcançava os mais deliciosos resultados. Não seria mesmo uma indicação de que o país, despreparado para o destino glorioso que ambicionamos, também conseguiria vencer suas limitações e deficiências e chegar ao ponto de grandeza que nos daria individualmente o maior orgulho, pela extinção de antigos complexos nacionais? Interrogação que certamente não aflorava ao nível da consciência, mas que podia muito bem instalar-se no subterrâneo do espírito de cada patrício inquieto e insatisfeito consigo mesmo, e mais ainda com o geral da vida.
(...)
A identificação da sociedade com ele fazia-se naturalmente. Garrincha não pedia nada a seus admiradores; não lhes exigia sacrifícios ou esforços mentais para admirá-lo e segui-lo, pois de resto não queria que ninguém o seguisse. Carregava nas costas um peso alegre, dispensando-nos de fazer o mesmo. Sua ambição ou projeto de vida (se é que, em matéria de Garrincha, se pode falar em projeto) consistia no papo de botequim, nos prazeres da cama, de que resultasse o prazer de novos filhos, no descompromisso, afinal, com os valores burgueses da vida.
(...)
Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho.
Texto na íntegra pode ser acessado aqui: https://www.diariodocentrodomundo.co m.br/o-encontro-de-dois-geniosdrummond-e-garrincha/
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