O GOVERNO DO CAPITÃO É O GOVERNO DO CAPITAL
Na semana passada o Comitê de Política Monetária do Banco Central aprovou novo aumento da taxa básica de juros, que agora bate em 9,25%. Justificou-se a medida como forma de frear a inflação. Porém, a atual escalada de preços não se deve a um aumento da demanda. A inflação que corrói o poder de compra da massa trabalhadora é uma inflação de custos causada pela desindustrialização. Isso obriga o país a aumentar suas importações e, com o dólar alto, a agromineração exportadora ganha muito dinheiro, à custa de um aumento de preços que penaliza a massa trabalhadora.
Ainda na semana passada, em 07 de dezembro, Bolsonaro participou de evento na CNI (Confederação Nacional da Indústria), em que uma lista com 44 propostas para, no dizer dos mesmos, destravar o crescimento econômico. Entre as propostas está a liberação para o funcionamento das indústrias nos domingos e feriados. Bolsonaro destacou que “Quem cria realmente a massa de empregados que gera riqueza no país são vocês. Qual a nossa obrigação? Ajudar vocês. Não atrapalhar vocês em primeiro lugar”.
O fato inelutável é que o governo do Capitão é o governo do capital. Desde o golpe de 2016, a burguesia em seu conjunto declarou uma guerra de classe contra o povo trabalhador. Em 2017, Rodrigo Maia afirmou que a agenda da Câmara seria a agenda do mercado. E também tascou que a justiça do trabalho nem deveria existir. O que Bolsonaro tem feito é aprofundar essa agenda. Por isso, apesar de certas facções burguesas já terem rompido com Bolsonaro e até flertado com o impeachment, “a massa da burguesia”, como diria Marx, sustenta o genocida ainda que discorde de aspectos do seu governo. Os dados estão aí para provar. Em plena pandemia, enquanto a mortalidade alcança a mil mortes pela Covid, o número de bilionários brasileiros saltou de 275 em 2020 para 315 em 2021. A fortuna pessoal dessa gente representa 25% do PIB nacional. Bradesco, Itaú e Santander tiveram um lucro de 33,2 bilhões de reais no primeiro trimestre de 2021, valor 245,7% maior do que o lucro registrado no mesmo período em 2020. Para sustentar essa fantástica acumulação de capital, metade da população enfrenta algum nível de restrição alimentar. Em julho deste ano, a renda média do trabalhador caiu 7% em relação ao mesmo mês de 2020. E o salário mínimo calculado pelo Dieese, em setembro, para atender as necessidades de uma família de 4 pessoas, R$ 5.969,17, valor cinco vezes maior do que o salário mínimo oficial que hoje é de R$ 1.100,00.
Isso demonstra que a retração econômica só atinge a massa trabalhadora assalariada, os trabalhadores por conta própria e o pequeno e médio capital. Já o grande capital é protegido pelo Estado e pelo governo do Capitão das crises inerentes ao próprio capitalismo.
Sabemos que a conjuntura está sobejamente difícil para as massas trabalhadoras. Impera grande confusão política e ideológica semeada pela esquerda liberal. Sem horizonte estratégico, a classe trabalhadora fica presa de programas que se limitam a mitigar os efeitos devastadores da fome, do desemprego, da exploração e da miséria. Porém, não há saída para os trabalhadores fora da sua auto-organização e da luta de classe. Esses são os únicos caminhos possíveis para o povo reagir à guerra de classe que lhe move o governo do Capitão e o capital.
• CONTRA O DESEMPREGO E O CUSTO DE VIDA
• IMPEACHMENT E CADEIA PARA BOLSONARO
• ABAIXO O AJUSTE ULTRALIBERAL
• PELO SOCIALISMO
• TODO O PODER ÀS MASSAS TRABALHADORAS
Brasil, 14 de dezembro de 2021
SEÇÃO CULTURAL
THIAGO DE MELO E OS ESTATUTOS DO HOMEM
Amadeu Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, Amazonas, em 30 de março de 1926. Além de tradutor e ensaísta, é um dos poetas mais influentes e respeitados do país, sendo reconhecido como um ícone da literatura regional. A luta política, o lirismo, as relações de família e os amores são facetas marcantes em sua obra. Preso durante a ditadura militar (1964-1985), exilouse no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador. Morou na Argentina, Chile, Portugal, França e a Alemanha. Depois voltou à sua cidade natal, onde vive até hoje com seus 95 anos. Publicou “A Canção do Amor Armado”(1966) E “Faz Escuro Mais Eu Canto” (1968). Tornou-se nacionalmente conhecido na década de 1960 como um intelectual engajado na luta pelos Direitos Humanos, e manifestou em sua poesia o seu repúdio ao autoritarismo e à repressão. Em "Os Estatutos do Homem" (1964) faz alusão ao fatídico 31 de março de 1964, data do golpe militar que instaurou a ditadura no país. Publicamos aqui excertos de seu poema Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente), dedicado a Carlos Heitor Cony. Segue também o link de vídeo do YouTube com o referido poema declamado pelo próprio Thiago de Mello: https://www.youtube.com/watch?v=G UzzvVdI-CU.
Artigo I.
Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida, e que de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II.
Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III.
Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV.
Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. Parágrafo Único: O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino.
Artigo V.
Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usara couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.
Artigo VI.
Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
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